Está no primeiro ano sob a orientação de uma das mais ilustres professoras do Conservatório, Vera Gornostayeva. Nos concertos dos seus alunos, diga-se de passagem, a sala sempre está cheia e é difícil encontrar um lugar para estar de pé. O último desses concertos teve lugar no dia 26 de Novembro, o Pedro tocou duas peças de List. Depois do concerto fomos a um café e ele respondeu às minhas perguntas.
O Pedro é de Guimarães, e toca piano desde pequeno. Como não havia muitos pianistas na sua cidade, ele foi quase obrigado a tocar orgão na missa. Por isso acontecia era frequente na rua alguma velhota desconhecida chegar ao pé dele Pedro e dizer-lhe: "Obrigada, meu filho, sempre quando tu tocas eu choro de emoção".
O Pedro confessou-me que o novo centro cultural de Guimarães Vila Flor não funcionava tão bem como ele gostaria. Lá têm lugar concertos de música popular, de bandas musicais da região, e concertos de música clássica acontecem escassas vezes durante o ano. O Pedro lamenta esta escassez, e que o nível cultural de sua cidade esteja a baixar. Ao acabar o décimo segundo ano de escolaridade, ele resolveu vir para a Rússia, onde a tradição de musica clássica é muito forte.
No início a vida em Moscovo foi difícil, porque tudo se tornou "definitivamente diferente", todas as aulas eram em russo sem ele ainda saber a língua, sem ter Internet nas primeiras semanas, morando num quarto com mais duas pessoas. Pouco a pouco os problemas mais graves resolveram-se, e o Pedro foi conseguindo assistir às aulas e perceber
o que se estava a dizer. Demorou alguns meses para conseguir a pronunciar "Краснопресненская", o nome da estação do metro onde fica a residência universitária do Conservatório. Quatro-cinco meses foram necessários para quebras a barreira da língua, e começou então a falar com desembaraço.
No passado domingo, 6 de Dezembro, eu e o Pedro fomos a um concerto cujo programa incluia obras de Gustav Mahler, na Sala Grande do Conservatório, nomeadamente a segunda sinfonia e um ciclo de canções. A música de Mahler é monumental e requintada ao mesmo tempo. Ele é conhecido por ter composto sinfonias longas. Numa delas num palco estão duas orquestras e dois coros, e um terceiro fica fora das portas da sala de tal maneira que os ouvintes não sabem de onde vem o som. Na segunda sinfonia, Malher também usou essa técnica. Havia tubos a tocar atrás dos bastidores е nos balcões da plateia, o que acabou por dar uma nova consistência ao som, uma nova dimensão.
Num intervalo encontrámos o maestro João Tiago Santos, finalista do Conservatorio de São-Petersburgo, e aluno do maestro Vassili Sinaiski. João Santos dirigiu o concerto de música coral portuguesa em Outubro. Foi uma grande surpresa dar com ele, mas eu fiquei ainda mais pasmada ao ver também o nosso professor o João Mendonça e mais dois portugueses. Um deles, o João Soeiro, é estudante do primeiro ano da Academia Russa de Música Gnesin, tal como o Pedro, que também é pianista. Foi duplamente mais agradável porque foi por pura sorte, não foi combinado. Afinal estavam cinco portugueses. Além de partilhar as impressões sobre Malher, falaram sobre a chegada do novo Embaixador, Pedro Nuno Bártolo. Mas isso é tema para outro artigo. Então, eu senti orgulho por pertencer àquele ambiente de "máfia portuguesa", por ter escolhido português como especialização.







No ultimo domingo, no cinema 35 MM, no âmbito do festival de cinema brasileiro, a decorrer até ao dia 26 deste mês em Moscovo, foi exibido Tempos de Paz do realizador brasileiro Daniel Filho. O filho é uma adaptação da peça do mesmo nome, de Bosco Brasil. Esteve presente o actor Daniel Stulbach, com o qual o público teve a oportunidade de discutir o filme. Apesar de o filme não ter sido exibido em horário nobre, o filme registou uma importante afluência, o que confirma o interesse e curiosidade do público russo em conhecer a cultura brasileira e o Brasil, que goza de uma imagem de país misterioso junto dos russos.







