пятница, 11 декабря 2009 г.

Para os Lados do Conservatório

No dia 3 de Outubro realizou-se um concerto de música coral portuguesa, da iniciativa do Instituto Camões, com apoio da Embaixada de Portugal em Moscovo, na sala Rachmaninov do Conservatório ( um artigo sobre o evento). Foi lá que eu tive a sorte de conhecer um português, o Pedro Emanuel Pereira, muito simpático que estuda no Conservatório Tchaikovsky; é pianista. Está aqui há um ano e meio. Participou em muitos concursos e foi sempre laureado. É bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian.

Está no primeiro ano sob a orientação de uma das mais ilustres professoras do Conservatório, Vera Gornostayeva. Nos concertos dos seus alunos, diga-se de passagem, a sala sempre está cheia e é difícil encontrar um lugar para estar de pé. O último desses concertos teve lugar no dia 26 de Novembro, o Pedro tocou duas peças de List. Depois do concerto fomos a um café e ele respondeu às minhas perguntas.

O Pedro é de Guimarães, e toca piano desde pequeno. Como não havia muitos pianistas na sua cidade, ele foi quase obrigado a tocar orgão na missa. Por isso acontecia era frequente na rua alguma velhota desconhecida chegar ao pé dele Pedro e dizer-lhe: "Obrigada, meu filho, sempre quando tu tocas eu choro de emoção".

O Pedro confessou-me que o novo centro cultural de Guimarães Vila Flor não funcionava tão bem como ele gostaria. Lá têm lugar concertos de música popular, de bandas musicais da região, e concertos de música clássica acontecem escassas vezes durante o ano. O Pedro lamenta esta escassez, e que o nível cultural de sua cidade esteja a baixar. Ao acabar o décimo segundo ano de escolaridade, ele resolveu vir para a Rússia, onde a tradição de musica clássica é muito forte.

No início a vida em Moscovo foi difícil, porque tudo se tornou "definitivamente diferente", todas as aulas eram em russo sem ele ainda saber a língua, sem ter Internet nas primeiras semanas, morando num quarto com mais duas pessoas. Pouco a pouco os problemas mais graves resolveram-se, e o Pedro foi conseguindo assistir às aulas e perceber o que se estava a dizer. Demorou alguns meses para conseguir a pronunciar "Краснопресненская", o nome da estação do metro onde fica a residência universitária do Conservatório. Quatro-cinco meses foram necessários para quebras a barreira da língua, e começou então a falar com desembaraço.

No passado domingo, 6 de Dezembro, eu e o Pedro fomos a um concerto cujo programa incluia obras de Gustav Mahler, na Sala Grande do Conservatório, nomeadamente a segunda sinfonia e um ciclo de canções. A música de Mahler é monumental e requintada ao mesmo tempo. Ele é conhecido por ter composto sinfonias longas. Numa delas num palco estão duas orquestras e dois coros, e um terceiro fica fora das portas da sala de tal maneira que os ouvintes não sabem de onde vem o som. Na segunda sinfonia, Malher também usou essa técnica. Havia tubos a tocar atrás dos bastidores е nos balcões da plateia, o que acabou por dar uma nova consistência ao som, uma nova dimensão.

Num intervalo encontrámos o maestro João Tiago Santos, finalista do Conservatorio de São-Petersburgo, e aluno do maestro Vassili Sinaiski. João Santos dirigiu o concerto de música coral portuguesa em Outubro. Foi uma grande surpresa dar com ele, mas eu fiquei ainda mais pasmada ao ver também o nosso professor o João Mendonça e mais dois portugueses. Um deles, o João Soeiro, é estudante do primeiro ano da Academia Russa de Música Gnesin, tal como o Pedro, que também é pianista. Foi duplamente mais agradável porque foi por pura sorte, não foi combinado. Afinal estavam cinco portugueses. Além de partilhar as impressões sobre Malher, falaram sobre a chegada do novo Embaixador, Pedro Nuno Bártolo. Mas isso é tema para outro artigo. Então, eu senti orgulho por pertencer àquele ambiente de "máfia portuguesa", por ter escolhido português como especialização.

вторник, 8 декабря 2009 г.

O Concurso de Fonética


Não há nenhum estudante de Portugués na Universidade de Relações Internacionais de Moscovo que não сonheça o Concurso de fonética, que decorre todos os anos nos finais de novembro. Todos os estudantes que estudam português no primeiro ano aguardam este evento com impaciência. É uma autêntica instituição, um ritual iniciático após o qual Concurso os caloiros passam a ter de alguma forma o direito de se considererem verdadeiros estudantes de Português e membros da comunidade lusófona.
Se falarmos da história deste tradição pode-se dizer que o protótipo do nosso concurso é a Praxe académica em Portugal. A praxe é um conjunto amplo de tradições, usos e costumes que se praticam e repetem ao longo dos anos no foro universitário, e cuja Alma Mater é Coimbra. Na realidade é tradição integrar os caloiros na sua nova escola e nos respectivos costumes do estabelecimento, pelo que a praxe constitui também um ritual iniciático fortemente hierarquizado. Esta ligação é tão forte que por muitas vezes se confunde o conceito de praxe, que é o conjunto de todas as tradições e rituais, com o de "melindrar o caloiro". Actualmente, as actividades de recepção ao Caloiro têm sofrido forte contestação e gerado enorme polémica, chegando a haver o instaurar de diversos processos-crime, em razão de práticas que, afinal de contas, nada têm a ver com os ritos iniciáticos da praxis académica. Felizmente não temos por objectivo realizar a praxe original.


Há pouco decorreu o concurso de fonética na nossa universidade (Universidade de Relações Internacionais de Moscovo- MGIMO) que incluiu 5 provas tradicionais:
Primeiro, os estudantes têm de recitar travas-línguas, seguidos da declamação dos versos de poetas famosos portugueses e como não podia deixar de ser, o nosso poema preferido «Mar Português», que todos os estudantes são obrigados a saber de cor. Este poema do célebre poeta Fernando Pessoa já se pode chamar «o hino» dos estudantes. A seguir vai a vez das encenações, sketches e, finalmente, as canções.
Os estudantes do primeiro ano de Relações Internacionais e Jornalismo Internacional e do 2 ano de Relações Económicas Internacionais com sucesso conseguiram provar que já tinham um notável conhecimento da língua apesar de a estudarem há apenas 3 meses, e que estavam prontos para continuar os seus estudos com o mesmo afinco.


O ambiente nesta nóite e tão familiar que quase ninguém se sente em competição e não apetece ir embora no fim. Aliás posso acrescentar que o Concurso de Fonética não é só uma tradição, uma festa que os caloiros não irão esquecer nunca, como também um grande estímulo para vir outra vez no próximo ano, para se juntar aos outros estudantes de Português, e desfrutar das intervenções dos alunos do 1 curso, rir-se e tomar consciência de que já são estudantes-veteranos – não caloiros .
Tatyana Murashova

вторник, 1 декабря 2009 г.

Futebol. Pseudo- ideologia vs. pseudo- país.

Desde que a selecção russa de futebol derrotou a da Holanda, uma das favoritas no Euro-2008 o interesse pelo futebol na Rússia aumentou significativamente, particularmente entre certos e determinados altos funcionarios têm tentado fazer do futebol uma ideologia de estado capaz de congregar o povo.


Deutados e senadores, jornalistas próximos do Kremlin não demoraram muito a perceber o que aconteceu e correram desde então para os campos para jogar futebol ganhando pontos políticos. Nas vésperas do jogo contra a Alemanha os médias russos falaram da importância universal do evento eminente enquanto as pessoas iam comprando o simbólico nacional, as gaitas, reservando os lugares nos sport-bares, provendo-se das entradas e cerveja, já predizendo quem iriam defrontar no seu respectivo grupo em África. Mas já depois de perder na Eslovênia há uma semana as mesmas pessoas começaram a lembrar-se das anedotas antigas dos nossos futebolistas.

Será possivel que o futebol pode ter-se transformado na ideia nacional de país? Na verdade não. Uma ideia autêntica nacional de Estado deve ser permanente. Mas o futebol, como cada jogo, não pode tem essa permanência. Pois subentende derrotas. Ou seja, tal princípio do futebol é semelhante ao dos impérios que se quebram quando acabam os triufos bélicos e começam as derrotas.
Mas a bem dizer esta atitude é válida só em relação aos países desenvolvidos ou àqueles em via de desenvovimento. Pois os estados mais débeis com um funcionamento simples, à imagem do desporto-rei, com regras simples que só requerem uma bola e umas pessoas, como uma ideia nacional, igualmente simples, que poderia congregar o povo.



A Rússia não é a Serra Leoa, a Guiné ou a Libéria. É um país de estrutura complexa. Por isso aqui o futebol pode ser só o apêndice da ideia nacional, mas não é a mesma. O facto de o futebol ter a possibilidade de se transformar na ideia nacional do país é revelador do seu desenvolvimento. Nem a Espanha, nem a Alemanha, nem a França, nem Portugal, nem a Italia, nem o Brasil, nem qualquer outro estado desenvolvido se baseia nessa ideia. Por isso queria que a Rússia nunca chegasse a ter tal pseudo- ideia nacional, ou seja, que não se tornasse nunca um pseudo- país com tal ideia.