пятница, 26 марта 2010 г.

Beijinhos de Portugal, ou Сomo Nós Сonhecemos Coimbra

Neste Inverno estivemos em Portugal. Nao foi a primeira vez, e já pensávamos que nada nos podia surpreender lá. Enganámo-nos redondamente! Descobrimos a cidade de Coimbra e logo percebemos que era bem diferente de tudo o que tínhamos visto antes...
Não tentamos dissipar estereótipos alguns, só queriamos compartilhar a nossa experiência, bem como as nossas emoções.


A primeira coisa que nos supreendeu (muuuito!) foi o tempo em Portugal. Nós todos sabemos que Portugal é um país bem quentinho.  Pelo menos pensávamos assim quando estávamos a fazer malas. Mas! Verificámos precisamente o contrário: embora todos os portuqueses neguem a existência do Inverno e do frio no seu país, verdade seja dita, não sentimos muito calor por lá!
 

A única coisa que nos salvou foi o aquecedor porque nos faltou o aquecimento central (se não há Inverno, para que é que serve ter aquecimento central?!) E foi-nos difícil  compreender como é que os portugueses podiam estar nas esplanadas à noite a beber cerveja ou a tomar o seu cafezinho. 
 
Também vale a pena descrever o ambiente bem especial da cidade estudantil. Nota-se nem só pela quantidade dos estudantes ou pela beleza da Universidade mais antiga de Portugal, mas o que é mais importante é que se pode sentir a presença das tradições ricas. Uma delas é, com certeza, fado de Coimbra, ou seja fado estudantil. É tão diferente do fado de Lisboa que ainda não se podem ser comparados. É cheio da energia e entusiasmo juvenil, mas ao mesmo tempo é muito lindo e não deixa de tocar no coração das pessoas! 
Mas nem tudo é tão fácil no mundo estudantil de Coimbra. Estámos a falar sobre a praxe. Claro que todos já conhecem este fenómeno. Nesta vez vimos o reverso da medalha: nem sabíamos que há o movimento anti-praxe entre os esdudantes, e quase toda a comunidade estudantil está dividida em dois grupos – pro e contra a praxe. Os primeiros defendem as tradições e a história rica da Universidade dizendo que é um dos fenómenos particulares de Coimbra. Outros insistem que a praxe representa humilhação, desigualdade, hierarquia e discriminação. Também refutam o conceito de traje como o símbolo da hierarquia.
 
Outra coisa que nos supreendeu é a actividade dos estudantes seja social contra a praxe ou as propinas, seja política a favor dos direitos humanos. O exemplo mais flagrante aqui é a República feminina e feminista chamada A República das Marias do Loureiro. Não vamos descrever o conceito da república em pormenores porque este tema merece mais um artigo, só queriamos mencionar esta mesma república porque as raparigas que moram lá lutam pelos direitos das mulheres.
 
Conhecemo-las na apresentação do filme brasileiro “Anjos do Sol” sobre a exploração sexual das crianças e tráfico das pessoas para os fins comerciais no Brasil. Para ver o filme à casa das Marias chegaram pessoas bem diferentes, nem só mulheres ou feministas. Depois do filme teve lugar uma discussão muito viva sobre o assunto que se desenvolveu noutra sobre imigração ilegal, direito para o aborto, prostituição nem só no Brasil mas em todo o mundo. Ficámos muito impressionadas pela conversa e pelas Marias, bem como pelos temas abordados.

* * *
Achamos que tivemos sorte de encontrar tais pessoas e é muito prazer para nós em conhecê-las e em termos sentido o ambiente especial da cidade porque nem todos os estudantes de Moscovo tem uma oportunidade destas. Da nossa parte fizemos o nosso melhor a representarmos a Rússia!

Catarina Casacova, Alhona Péplova


30 комментариев:

  1. A Catarina acha possível aparecimento duma organisacão feminina tão forte em Moscovo?
    acha que as mulheres russas são menos preocupadas com esse assunto?
    ou pelo contrario, não querem lutar por que podem vencer usando carinho e amor?

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  2. surgiu mais uma pergunta
    o que é o "representar a Rússia"?

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  3. Cara Anna!

    nem só aparecimento destas organisações em Moscovo é possivel, mas a sua existência também! na Russia, nem só em Moscovo há organisações femininas, bem como feministas. claro, por causa do tamanho de Moscovo é-lhes muito mais difícil sobreviver, organizar algo, seja manifestação ou apresentação dum filme, porque pelo menos custa muito. e eu pessoalmente não acho que seja rasoável comparar tais cidades como pequena Coimbra estudantil com grandíssima Moscovo com toda a variedade das pessoas que vivem aqui.

    quanto às mulheres russas, acredito que são (ou somos? =)) muito fortes, podem suportar muitas coisas, mas isto não significa que não são preocupadas com direitos humanos ou com os das mulheres, nem por isso! vou repetir mais uma vez, acho que é impossível comparar a Rússia com Portugal, temos backgrounds diferentes, problemas sociais e económicos também são diferentes, por isso não temos que comparar a actividade social numa cidade bem estudantil lá com a de Moscovo, uma cidade em que,claro, vivem nem só os estudantes! espero que perceba o que digo.

    e, verdade, tenho toda a certeza que é impossível lutar contra violação domestica ou exploração sexual ou tráfico das pessoas para os fins comerciais usando "carinho e amor". é ipossível até para as mulheres russas!

    obrigada muito pelas suas perguntas!será o meu prazer esclarecer o resto das dúvidas.

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  4. o que significa representar a Rússia? boa pergunta, obrigada!=)

    todos sabem que os estrangeiros têm uma série dos estereótipos sobre os russos e sobre a Rússia em geral, é absolutamente natural. mas, infelizmente para nós, quase todos são ligados à vodka ou aos ursos. por isso quando estivemos em Portugal, queriamos mostrar outra imagem da Rússia, mais verdadeira. explicámos aos amigos e aos colegas dos cursos da língua que aqui, na Rússia não bebemos vodka todo o tempo, que os ursos não passam pelas ruas, que temos muitos outros animais (era-nos difíl lembrar dos nomes dos mais russos, mas conseguimos!), que o Inverno russo não dura todo o ano e assim por diante=)

    um dos nossos amigos interessa-se pelas relações entre a Rússia e os países da ex-URSS, contámos o que sabiamos, porque os estrangeiros (não estou a falar só sobre os portugueses) as vezes imaginam a Rússia da maneira um pouco deturpada, deformada. fizemos o nosso melhor para "emendar" a situação!

    p.s. provámos só único estereótipo - sobre a beleza das mulheres russas! =) (acho que as portuguesas são muito bonitas também!)

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  5. Bravo Alhona! Ainda nao tehno mais para acrescentar:) mas caso aparecerem outras perguntas ou comentarios, tambem tou pronta a responder :)

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  6. Olá a todas,
    É com gáudio que vejo as questões feministas em debate entre as estudantes de língua portuguesa. Antes de manifestar a minha opinião sobre esta temática, apresento-me: sou portuguesa, activista feminista, estudo em Moscovo. Torna-se, agora, claro o meu entusiasmo. =)
    Residindo há 6 meses na capital, já pude imergir um pouco na cultura russa, pensar os comportamentos mais comuns, estabelecer comparações, etc.
    Não obstante as diferenças socioculturais entre Portugal e a Rússia, ambos os países se apoiam numa mesma base – o sistema patriarcal, que tende a privilegiar os homens e o que é tido como “universo masculino” e a subordinar as mulheres.
    A opressão e exploração das mulheres não se circunscrevem a uma determinada área geográfica, mas manifestam-se em todo o mundo.
    Mais do que mensurar os níveis de incidência da desigualdade de género, é preciso olhá-la e perceber que não existe por si, isoladamente. É, ao invés, a manifestação dos valores patriarcais arraigados nas sociedades, os mesmos que são veiculados na família, escola, religião, média, etc. Neste sentido, não há assim tantas diferenças entre Coimbra e Moscovo; ambos castram os direitos das mulheres, protelando a assunção dos princípios feministas.
    Foi referido que é difícil abordar as questões feministas em Moscovo. Gostaria de saber as razões. Moscovo é uma cidade grande, mas isso não impede que o activismo feminista exista, subsista e consiga singrar. Que tipo de ONG’s feministas existe? Que formas de actuação possuem? Como se caracteriza a relação entre estas e o poder vigente?
    Se possível, facultem-me contactos de associações feministas activas em Moscovo. Gostaria de colaborar, mas não consigo encontrar informações (suficientes!) na Internet.
    Do mesmo modo, estou disponível para vos disponibilizar quaisquer informações atinentes ao movimento feminista português, etc.
    Agradeço a atenção.
    Anabela

    P.S: Foram para Coimbra?
    Braga seria muito melhor! Conheceriam a acérrima militância feminista nesta cidade....ahaha...brincadeira!

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  7. Cara Amiga,
    Parece-me que ja discutimos cara a cara o assunto.))
    eu acho que a mulher é um dos muitos elementos da sociedade que sofre de discriminição na Rússia. Os homens não são menos discriminados do que as mulheres. Não se trata de uma luta de sexos, mas de um dificil equilíbrio de forcas entre ricos e pessoas de condição mais modesta.
    posso afirmar uma coisa, é que as mulheres não pretendem a igualdade por estas bandas. Por razões óbvias.
    As mulheres são educadas segundo o princípio de que ao homem é que cabe a obrigação de trazer o sustento. E não é raro ouvir-se que «o homem tem que ser forte e a mulher tem que ser bonita»
    A militância feminista na Rússia nao tem nada a ver com a militância feminista portuguesa. a militância feminista na nossa social democracia portuguesa dá-me vontade de rir, pois sao é ela mesmo que corrobora as prioridades do governo, como a do casamento homossexual, quando o país está a saque, com taxas de desemprego nunca antes vistas.
    Gosto imenso da figura da mulher, e prezo ainda mais o direito que elas têm à diferença, pelo que a diferença em si não tem nada de negativo.
    Neste momento, nas escolas secundárias portuguesas, as crianças deficientes estão misturadas com as demais, com esse mesmo pretexto da igualdade, que não favorece as próprias, e prejudica o desempenho das outras crianças.
    Pergunta lá mas é a essa malta russa que diz que quer igualdade de direitos se está disposta a pagar contas no restaurante, e se quer abdicar de certos gestos de galenteio, que tu e eu poderemos interpretar como machismo disfarçado!

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  8. Na Rússia o serviço militar é obrigatório para os rapazes. Qualquer jovem dos 18 aos 29 anos de idade pode ser raptados pelos comissários para integrar os contingentes militares. Quantos estudantes universitários quando menos esperam são levados das residências universitárias a meio da noite para integrar os contingentes? Um ex-estudante meu amigo foi apanhado nessas operações de recrutamento espontâneo no metro quando ia para o trabalho. Incorporado nos contingentes no mesmo dia. Vou-te poupar os pormenores da estadia dele na tropa, e as condições em que ele lá esteve.
    Já que se trata de igualdade de direitos, porque não propor o serviço militar obrigatório para as meninas também, e com praxe, para sermos iguais em tudo?
    E para as que estudam, porque é que não hão'de levar com a instrução militar durante dois anos, e o mês de serviço militar no verão, como os rapazes?

    Costumo ir muitas vezes ao parque de Kolomenskoe passear. Não é raro as casas de banho dos homens estarem repletas de mulheres, que se estão nas tintas para nós homens.

    De que feminismo estamos a falar. Se as mulheres querem igualdade de direitos, assumam os deveres a eles inerentes!

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  9. Caro João,

    Estás certo. Encetámos uma discussão lacónica sobre esta temática; porém, parece que não foi suficiente. ;)
    Ora, vejamos:

    1.“Não se trata de uma luta de sexos”.
    Correcto. Nunca o foi.
    Desde os seus primórdios, o movimento feminista combate a Desigualdade de Género, ou seja, a desigualdade entre mulheres e homens no que concerne aos traços e papéis sociais. Isto significa que, ao contrário daquilo que pulula por aí, não se pretende atribuir privilégios às mulheres.
    Os homens são também objecto de discriminação, opressão, repressão. Contudo, importa notar que a ideologia que estriba a opressão/exploração das mulheres difere daquela que está na base da dos homens. Como referido, as sociedades contemporâneas apoiam-se na ideologia patriarcal. As relações de poder são desiguais, as mulheres estão em clara desvantagem. Dúvidas? Basta fazer uma pesquisa rápida no Google, nomeadamente na imprensa online, para se perceber este tópico. Não se trata tão-só de um “difícil equilíbrio de forças entre ricos e pessoas de condição mais modesta”, pois atitudes/comportamentos discriminatórios são transversais a qualquer classe (como abomino tão vocábulo!) social.

    2.“… as mulheres não pretendem a igualdade por estas bandas. Por razões óbvias”.
    Lamento discordar, mas não me parece nada óbvio. Queres então dizer-me que as mulheres saúdam a violência sexual, física, moral e psicológica; a assimetria salarial; a coisificação dos seus corpos nos média; a aniquilação dos seus direitos sexuais?!
    Qualquer pessoa consciente recusa a perpetração e perpetuação de tais crimes. É certo que nem todas questionam a existência de tais problemas. Isso deve-se ao que referi no comentário anterior, reiterando: à veiculação de valores patriarcais na família, escola, religião, média, etc. Tu próprio pareces anuir com esta asserção: “As mulheres são educadas segundo o princípio de que ao homem é que cabe a obrigação de trazer o sustento. E não é raro ouvir-se que “o homem tem que ser forte e a mulher tem que ser bonita”.
    Camus dizia que “pensar é começar a ser minado”. Discorrer sobre estas questões dói e de que maneira. Para o indivíduo pouco diligente, é preferível ignorá-las ou tomá-las como secundárias. Pode ainda resignar-se ou considerá-las causas inelutáveis. Lamento tais posições.

    3.“… a militância feminista na nossa social democracia portuguesa dá-me vontade de rir, pois é ela mesmo que corrobora as prioridades do governo, como a do casamento homossexual”.
    Não me parece que conheças assim tão bem o movimento feminista português. De outro modo, verias que as ONG’s feministas, nomeadamente aquela onde militei, não corroboram as prioridades do Governo. Exercem, ao invés, pressão; colidem com muitas das directrizes adoptadas, etc.
    Em relação ao casamento homossexual, foi uma causa apoiada, sem dúvida. Do meu lado, apoiadíssima. Não considero a violação de direitos humanos seja uma questão menor, muito menos num país que se diz democrático. Além do mais, não percebo onde a legalização do casamento homossexual impede o combate ao desemprego. Será problema meu, talvez.

    4.“Gosto imenso da figura da mulher, e prezo ainda mais o direito que elas têm à diferença, pelo que a diferença em si não tem nada de negativo”.
    Explica-me, por favor, o que é a “figura da mulher”? Dá a ideia que te referes a um sujeito estático, com características pré-determinadas. Gostaria de compreender, pois, a meu ver, não há um sujeito “mulher”. Há “pessoas”, posso ainda assentir com o plural “mulheres”. Diversidade, apologizo!

    (Parte I)

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  10. (Parte II)

    5.“Já que se trata de igualdade de direitos, porque não propor o serviço militar obrigatório para as meninas também, e com praxe, para sermos iguais em tudo?”
    A questão não é propor a integração das mulheres no serviço militar obrigatório. O objectivo é muito mais audacioso: é exigir a sua supressão peremptória do mesmo, pois tão-só castra liberdades, reifica indivíduos, suporta o ideário bélico.

    6. “De que feminismo estamos a falar?”.
    De que feminismo falamos? Acho que ficou claro na minha intervenção. Mas se ainda restam dúvidas, elucido: falamos de um movimento plural, multiforme, heterogéneo, composto por homens e mulheres. Insurge-se contra os discursos apologéticos do patriarcado, homofobia, transfobia, heterocentrismo, etc. Exige sociedades onde as liberdades individuais são respeitadas; onde pénis e vaginas não determinem modos de actuação, sentires e pensares das “pessoas”. Defende igual acesso à educação, saúde, arena política e económica, exercício da parentalidade, etc.

    7.Última pérola: “Se as mulheres querem igualdade de direitos, assumam os deveres a eles inerentes”.
    Para que fique claro, considero esta frase absolutamente desprovida de sentido. Mas interrogando: desde quando há deveres “inerentes” às mulheres? Já agora, quais são? Desconheço-os e temo mesmo estar a cometer uma série de infracções!
    Fingindo dar assentimento ao teu raciocínio: os homens são privilegiados nas relações de poder, ganham mais, são considerados o capataz. Então, isso significa que eles cumprem os tais “deveres inerentes”?! Interessante, muito interessante!

    **
    Obrigada pela atenção, mesmo! Esforcei-me, mas não consegui ser mais telegráfica. Enfim, mulheres (compreenda-se o carácter irónico da expressão!).
    Se fosse crente, eu diria: Oh God, make me good, but not yet! ;)

    bons feminismos,
    anabela

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  11. Quanto a mim, acho o movimento feminista ridículo.

    Para mim somos passarinhos, trazemos paz e construimos um ninho. uma mulher que luta parece um canário exigindo a mesma atitude por ele que por um águia.

    Aceito a tradição e natureza, e com imenso prazer eu me entregará a um homem, que seria o meu dono. é uma escolha consciente.

    Nas relacoes íntimas uma pessoa não só violenta a outra, mas essa deixa-lhe ser violentada. é o que eu defendo.
    o que faz bater uma mulher não é um pensamento que ela seja uma criatura inferior ou uma tradição, mas a falta da humanidade, bondade, da harmonia e Amor.
    Acho que não devemos confundir a violência e a falta de cultura com desigualdade.

    Também aquela ideia de igualdade mundial parece-me deficiente. não existe igualdade, por razoes pessoas, culturais, históricas. isso não implica que eu seja racista, nada disso. mas não posso negar a diversidade.

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  12. Olá Anna Safronova,

    Respeito a tua opinião e me apraz que a manifestes, mas não concordo com uma sílaba no teu discurso. De seguida, explico as razões.

    1.Lamento que aches o movimento feminista “ridículo” e te refiras, de forma tão pejorativa, a mulheres e homens que reivindicam direitos.
    Em particular, os “canários” – como designaste as feministas – lutaram/lutam pelo direito das mulheres à propriedade, ao divórcio, ao voto, à educação, à saúde, etc.
    É graças a estes “canários” que hoje estudas, votas, opinas, te moves na esfera pública, te auto-determinas na esfera privada e não constituis (a priori) um objecto nas mãos alheias.
    São estes “canários” que lutam contra a violência de género, tráfico humano, prostituição forçada, mutilação genital feminina, assimetria salarial, assédio sexual, etc.
    São estes “canários” que defendem a igualdade de Direitos. As feministas (e falo só de mulheres feministas, porque não te referiste aos homens!) não invejam ou odeiam os homens. Erro fulcral! Exigem, sim, a erradicação da discriminação de género (não de sexo!). O género refere-se aos traços e papéis que uma cultura estabelece; as feministas não pugnam pela igualdade biológica (sexual!).

    2.Aceitas a “tradição e a natureza”.
    Espero que não tenhas um olhar naif sobre ambos os conceitos.
    A tradição é um dos principais canais de subordinação das mulheres.
    Em inúmeros países, mutilar os genitais de meninas de tenra idade é laudável. Extirpam os lábios vaginais e, nos casos mais graves, deixam apenas um orifício. Porque é que se pratica? É tradição. Objectivo real? Controlar a vida sexual das mulheres, nomeadamente assegurar a virgindade.
    Os crimes de honra – e.g. apedrejamento – também são tradição. E, por conseguinte, mulheres são assassinadas, feridas, humilhadas.
    É preciso pensar a tradição com prudência no sentido de perceber as mensagens ideológicas que ela (re)produz.
    Sobre a “natureza”. Este conceito não existe. No máximo, a natureza não passa de uma construção sociocultural. O que faz as mulheres e os homens é a cultura/sociedade. Não nascem com um carácter pré-determinado.
    Biologicamente, homens e mulheres são distintos, sendo que os primeiros têm, em regra, mais força física. Este facto nunca poderá justificar a hegemonia masculina. Se assim pensas, é assustador.
    Referes que te “entregarás” (só a utilização deste verbo me petrifica!) a um homem e ele será o teu “dono”. Nem sei o que dizer. Lamento profundamente que te deixes reduzir a um mero objecto. Não me parece uma “escolha consciente”, mas antes um desprezo pela tua individualidade.

    3.“Nas relações íntimas uma pessoa não só violenta a outra, mas essa deixa-lhe ser violentada”.
    Em contexto de violência, a análise é simples: há um(a) agressor(a) e uma vítima. O primeiro deve ser punido; a segunda apoiada. É tudo!
    Ousar ponderar a possibilidade da vítima concordar com a violência exercida sobre si é nulo em sentido. Este pensamento é ainda perigoso, já que parece culpabilizar a vítima, insinuando que, por exemplo, a violência doméstica consiste em práticas de masoquismo. Recuso, absolutamente.

    (Parte I)

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  13. (Parte II)

    4.“… o que faz bater numa mulher não é um pensamento que ela seja uma criatura inferior ou uma tradição, mas a falta da humanidade, bondade, …”
    Estas palavras estão quase a transparecer uma visão maquineista, com a qual discordo. Mas dando continuidade ao teu raciocínio, pergunto: como justificas a opressão/exploração das mulheres? Por que razão são elas os principais objectos de discriminação?

    5.“… não existe igualdade, … mas não posso negar a diversidade”.
    Aqui nota-se uma confusão grave. A igualdade não existe, de facto. Mas fala-se, reitero, de igualdade de direitos e responsabilidades. Não se pretende uma uniformização ou perda de individualidades. Pelo contrário! Defende-se, sim, a diversidade, esta que ainda sucumbe ao patriarcado, racismo, xenofobia, homofobia, etc.
    Se realmente não podes “negar a diversidade”, o teu lugar deveria ser no movimento feminista. Esta é a palavra-chave deste movimento.

    6.Para mais informações sobre as questões feministas/de género, deixo algumas dicas. Os seguintes links mostrar-te-ão que a tua opinião sobre o movimento feminista está absolutamente errada. Não estou a ser intelectualmente sobranceira, nem pensar! Estou somente a exigir honestidade intelectual.

    Центр гендерных исследований:
    http://www.gender-ehu.org

    UNIFEM_ Women's fund at the United Nations:
    http://www.unifem.org/

    Московский центр гендерных исследований:
    http://www.gender.ru/

    Информационно-образовательный центр_ женская сеть:
    http://www.feminist.org.ua/

    Университетская сеть по гендерным исследованиям для стран бывшего СССР: http://www.gender.univer.kharkov.ua/

    Портал "Женщина и общество":
    http://www.owl.ru/

    ****
    Obrigada pela atenção!
    Mais uma vez, não me contive nas palavras. ;)

    Saudações feministas,
    anabela

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  14. Cara Anabela,

    Agradeco o teu contributo para o debate, isto e que da vida ao blog, e permite a circulacao de ideias. Acho interessante o confonto de ideias entre dois mundos, que como ves, sao bastante diferentes.
    A proposito, se quiseres, podes escrever artigos para o blog.

    Um abraco

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  15. Um amigo meu costuma dizer o seguinte: "quando estou em missao num pais, ao fim de seis meses escrevo um livro. Ao fim de um ano escrevo um artigo, e depois disso deixo-me estar calado."
    Estas a fazer a dura aprendizagem daquilo que e viver na Russia. O que ainda nao percebeste, cara Anabela, e que nesta parte do mundo as regras nao se escrevem com todas as letras.
    E por esse andar vais arranjar muitos inimigos, precismente do sexo feminino, que eu ja nem sei como hei-de designar para nao ferir as tuas conviccoes, pois se calhar e pecado falar em generos.
    Pareces o representante da Coca Cola para a Europa nos tempos do Salazar, a tentar introduzir o milagroso licor no nosso pais. Nem com subornos conseguiu convence-lo.
    Mas nao somos Salazares, nem ditadores, e a verdade e que a coca cola acabou por inundar-nos

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  16. E de lamentar a assimetria salarial, concordo, tal como e condenavel a violencia conjugal, na qual a mulhere sem duvida e quase sempre a vitima. E esses casos por ca abundam, sim. Vitimas dos chamados "alfonsyª, kak govoritsia, que nao trabalham, que vivem a custa das mulheres, e que bebem no sentido literal do termo a palavra., todos os recursos do lar. nesse campo a mulher esta desprotegida,sem duvida. Acabam por criar os filhos sozinhas. Ai reivindicacoes nao faltam.
    Mas e um problema social.
    No que respeita a questao do patriarcado, tenho muitas duvidas. Os homens mandam aparentemente, mas e so na montra.

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  17. Cara Anabela,

    acho que a reacção de "lamentar" e "ficar petrificada" não corresponde com o "respeitar a opinião".

    como é que a natureza não existe? biologicamente há em cada pessoa os instintos, e.g. o maternal.
    e a personalidade não é construída apenas por a sociedade, há coisas que determinam a pessoa desde a ter nascida.

    actos de violência são apenas um pormenor formal da tradição. entendo-a mais profundamente, com o tipo de cultura, religião, ofícios comuns e muitas outras coisas.

    a questão de violência qualquer é o que a Cruz Vermelha faz, e as organisacoes desse tipo, não só os feministas.

    a minha tese principal: tem certeza que o modelo de mundo ocidental e os valores dele podem ser implantados e reproduzidos noutros países?
    o professor João abordou esse assunto.

    entregar. acho que amizade e amor significam mesmo a entrega mutua das pessoas para encontrarem o novo "eu" sintético. não é perca de individualidade, pelo contrario, é o enriquecimento.

    sobre a vitima. falando sinceramente, a sua visão é simplista. para si há um A e um B, e nada entre eles. punir não pode provocar a vingança? por que a vitima deixa a violência estar repetida? por que não fuge? por que tinha casado com uma pessoa que lhe bate? etc.

    desconfio de qualquer movimento, de qualquer ideologia.

    não eram os feministas que tinham criado as possibilidades de eu estudar etc. foram a industrialização, a evolução de sociedade, é que mudaram de papel da mulher, criaram mais possibilidades para se exprimir.

    não digo que a discriminação não exista, que o corpo feminino não seja explorado etc.

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  18. Olá João,

    Parece-me uma óptima ideia participar no blogue. Terei todo o gosto.
    Discordo com o teu amigo e, à medida que o tempo passa, o meu afinco em analisar/combater estas questões aumenta. E se, de facto, “nesta parte do mundo as regras não se escrevem com todas as letras”, depende de nós exigir a mudança. A fleuma não produz quaisquer resultados, a não ser promover a estupidificação, etc.
    “Por esse andar vais arranjar muitos inimigos”, dizes tu. Não temo inimizades. Não rejo a minha vida em função de vontades alheias. Luto por ideais, simplesmente.
    Nota ainda: não te censures. Nada poderá ferir as minhas “convicções”. Como relevaste, o debate é essencial para a reflexão, compreensão, desenvolvimento. O debate – na verdadeira acepção da palavra – não encerra intentos de “ferir susceptibilidades”. É isso que faço aqui, debato. É isso que espero do outro lado. ;)

    bom fim-de-semana!
    anabela

    P.S.: Não aprecio Coca-Cola! ;)

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  19. Olá Anna S.,

    O “lamentar” e “ficar petrificada” manifestam unicamente a minha discordância com as tuas posições. Não tenho por hábito bater palmas quando ouço opiniões com as quais colido em absoluto. Saúdo, no entanto, a sua exposição. Encaremos assim: não é defeito, é feitio. ;)

    1.Sobre a natureza.
    Mantenho o que disse. É somente fruto das dinâmicas socioculturais. Olhemos o “instinto maternal”, como lhe chamas. É pura ficção.
    Desde a tenra idade, as miúdas recebem bonecas, apetrechos domésticos (máquinas de costura, fogões, …), os quais tendem a pré-determinar escolhas, a formatar pensares e actuações, a estabelecer atitudes/comportamentos.
    A maternidade é ainda entendida como o principal papel das mulheres na sociedade. Esta premissa causa-me náusea. Mostra tão-só que as mulheres, per se, não adquirem importância. São consideradas meras embalagens de fetos. A sua individualidade aniquila-se.
    Se há “instinto maternal”, como caracterizas as pessoas que não o ouvem? São o quê? Menos pessoas, seres execráveis e insensíveis que se recusam a ouvir os chamamentos da “natureza”? Serei uma dessas, com certeza.

    2.“… actos de violência são apenas um pormenor formal da tradição o tipo de cultura, religião”.
    É obvio que a violência brota, se integra e decorre da tradição, cultura, religião. No entanto, não a considero um “pormenor formal”, quase como a esquecer que a violência corrói e subverte direitos de mulheres e homens. Está longe de ser um “pormenor”, muito menos de ser desculpabilizada.

    3.“… a questão de violência qualquer é o que a Cruz Vermelha faz, e as organizações desse tipo, não só os feministas”.
    Não disse o contrário. O que tentei mostrar foi o papel activo das ONG’s feministas na defesa dos direitos humanos. Fico contente por já o reconheceres. Afinal, não somos simples “canários”. ;)

    (Parte I)

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  20. (Parte II)

    4.“Tem certeza que o modelo de mundo ocidental e os valores dele podem ser implantados e reproduzidos noutros países?”
    O Ocidente não apresenta modelos (económicos, políticos, socioculturais) perfeitos. Longe disso! Todavia, há modelos mais perfeitos do que outros. Quando comparado com outros, creio que o Ocidente ganha margem de aceitação, embora inclua muitas debilidades.
    Não sou apologista da colonização valorativa por parte do Ocidente. Exijo, porém, que se aja no sentido da maximização das liberdades individuais. A partir daí, criem e sustentem os valores que quiserem. Se isso significar a implantação ou reprodução dos melhores valores ocidentais noutros países, não me importo.
    Indo ainda mais longe, refiro mesmo que o Ocidente é, para mim, uma noção vaga. Se dependesse de mim, não existiriam conceitos como imigrante, emigrante, país, Estado. A existência de tais delimitações apenas suporta interesses económicos e políticos que deprecio.

    5.Sobre “entregar”.
    Utilizaste o verbo “entregar” acompanhado da palavra “dono”, recordando: “entregar-me-ei a um homem, que será meu dono”. Esta frase só permite concluir a perda de individualidade. Dono?! Mas para que precisas de um “dono”? Bolas!
    Neste último comentário, dizes que a “amizade e amor significam mesmo a entrega mútua”. Não concordo. No máximo, as pessoas partilham, não se fundem. Têm uma estrutura individual. É apenas sua. É assim que penso.

    6.“Para si há um A e um B, e nada entre eles. Punir não pode provocar a vingança? Por que a vítima deixa a violência estar repetida? Porque não foge? Por que tinha casado com uma pessoa que lhe bate?”
    O meu olhar sobre a violência nas relações de intimidade não é, de todo, simplista. Há inúmeros agentes, contextos e aspectos a ter em conta. Não obstante, isto é considerado no sentido de (e apenas!) optimizar o apoio à vítima, não de ilibar o/a agressor(a).
    “Punir não pode provocar a vingança?”. O que sugeres? Que, após um acto de estupro, a vítima confraternize com o agressor? Punição (sempre com vista à reintegração do indivíduo) é incontornável!
    “Por que a vítima deixa a violência estar repetida?”. Há um vasto conjunto de factores que impedem a vítima de quebrar o ciclo de violência, nomeadamente a dependência económica, métodos de coacção por parte do agressor (e.g. chantagem, ameaça, inculcação de terror), a inexistência de apoios institucionais e suporte familiar, a permeabilidade a noções culturais (que legitimam a violência), etc. Tudo isto impede que a vítima fuja, denuncie, rompa com o ciclo.
    Detenhamo-nos na análise do ciclo da “violência doméstica”, que incorpora 3 fases:
    - 1º fase aumento da tensão: manifestação paulatina de um comportamento agressivo em virtude de tensões diárias. Culpabilização da vítima pelos problemas surgidos.
    -2º fase explosão: perpetração de actos de violência física, psicológica, sexual.
    - 3º fase de “lua-de-mel”: caracteriza-se por um período de reconciliação, onde ambas as partes esquecem os actos violentos anteriores. A vítima tende a acreditar na mudança de comportamento da/o agressor(a).
    Como falamos de um ciclo, após a fase de “lua-de-mel”, segue-se a reiteração da violência. Isto pode ocorrer durante um mês, um ano, décadas.
    É interessante notar que tens 3 questões a incidir na “vítima” (ie, porque é que a vítima deixa que a violência se repita, porque é que não foge, porque é que se casa?) e nenhuma a questionar e pensar o/a agressor(a). Numa leitura analítica das tuas palavras, pareces culpabilizar a vítima e, por conseguinte, naturalizar/normalizar a violência.

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  21. (Parte III)

    7.“… desconfio de qualquer movimento, de qualquer ideologia”.
    O que seria de nós se não houvesse movimentos (sociais)! É óbvio que não há estruturas perfeitas. Há umas mais do que outras. Em todo o caso, os movimentos (sociais) cumprem a função de trazer a mudança, promover sociedades abertas, plurais, justas. É, pelo menos, neste movimento que me revejo.
    Quanto à(s) ideologia(s), ninguém está imune a ela(s). Todas as pessoas são seres ideológicos, integram grupos sociais, pugnam por objectivos comuns. O desafio é escolher entre as da opressão/exploração ou as da libertação/auto-determinação.

    8.“… não eram os feministas que tinham criado as possibilidades de eu estudar, foram a industrialização, a evolução de sociedade, é que mudaram de papel da mulher”.
    O sistema de ensino começou por integrar apenas homens. As mulheres eram remetidas para o lar, claro. Quem reivindicou? No Ocidente, feministas como Mary Wollstonecraft e Olympe de Gouges (esta última, guilhotinada!).
    No início do século XX, feministas como Emily Davison e Emmeline Pankhurst faziam greves de fome para que lhes fosse reconhecido o direito ao voto, em Inglaterra. Na mesma altura, a russa Alexandra Kollontai defendia, por exemplo, novas abordagens da sexualidade das mulheres.
    A “industrialização” criou condições materiais; não constitui em si uma mudança ideológica. Aliás, o processo de “industrialização” não mitigou a opressão e exploração das mulheres. Basta atentar, por exemplo, nas condições laborais a que elas foram/são submetidas.
    “Evolução da sociedade”, dizes. A sociedade não evolui por si. A sua mudança resulta de uma relação de forças entre movimentos sociais, partidos políticos, poder vigente, etc. Nada cai do céu, milagrosamente. Trabalha-se, constrói-se a evolução. E, aqui, o movimento feminista tem o seu papel.

    ****
    Como sempre, não fui comedida na intervenção. ;)
    Em todo o caso, foi um gosto.

    saudações feministas,
    anabela

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  22. Cara Anabela,

    acha que individualismo é uma virtude, e eu não. acho um vício, como o orgulho. daqui vêm as interpretacoes diferentes daquilo que se passa.

    também cresci num pais com tal história, que desconfio dos quaisquer movimentos sociais.

    creio que as coisas não tão fáceis como as tinha descrito. e.g. disse que são os partidos que fazem a sociedade evoluir. ou que a educação totalmente determina a personalidade da criança.

    mas eu também não suporto a discriminação, violência, dependência. a diferença é que eu não luto, mas continuo ser um passarão pacifico, tentando não criar novas agressões, por que qualquer luta a implica.

    Ana.

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  23. Olá Anna S.,

    1.“… acha que individualismo é uma virtude, e eu não”.
    Com efeito, acolho o conceito de “individualismo” que, na sua acepção, privilegia a liberdade e a responsabilidade de um indivíduo.
    Cada pessoa constitui uma entidade, existe e vale per se, é autónoma e faz escolhas em consonância com os seus propósitos. Os indivíduos não constituem uma massa homogénea, ausente em peculiaridades.
    O que se opõe a este modelo é o chamado colectivismo, que coloca a tónica unicamente na pertença à comunidade, na hierarquia e na obrigação social. O indivíduo surge como um apêndice dos outros, cumpre ordens, responde somente aos objectivos do grupo, apaga-se.
    O individualismo que preconizo não se opõe à associação, reciprocidade, intercâmbio. Pelo contrário, estas forças confluem e a sua convergência conduzirá àquilo que desejo: a supressão de todo o tipo de hierarquias (políticas, económicas, de género, de cor, etnia, etc.). Por outras palavras, a erradicação do Estado, capitalismo, patriarcado, racismo, xenofobia, etc.

    2.“Disse que são os partidos que fazem a sociedade evoluir”.
    Eu não disse que a existência de partidos políticos, per se, faz a “sociedade evoluir”. O que asseverei foi que a evolução não ocorre milagrosamente, mas resulta de uma “relação de forças”. Bem diferente.

    3.“Eu não luto, mas continuo a ser um passarão pacífico, tentando não criar novas agressões, por que qualquer luta a implica”.
    Há muitas formas de luta. Uma pessoa pode fazer a mudança no seu ciclo (família, amizades, escola, emprego,…). Não tem de participar obrigatoriamente num movimento social ou militar num partido político. Importa, sim, é que a sua actuação se reverta na promoção de sociedades mais justas e igualitárias.
    A luta não tem de encerrar um carácter agressivo. Há muitos exemplos de conflitos violentos entre o poder vigente e os grupos revolucionários. É verdade. Eu própria sou avessa a isso, revendo-me na frase de Simone de Beauvoir: “é fácil pagar (a revolução) com o sangue dos outros”. No entanto, há inúmeras vias de lutar/reivindicar direitos, que não são agressivas, mas sim assertivas. Esta é a palavra-chave: assertividade. Assertividade em definir objectivos, traçar formas de luta, estabelecer alianças, notar avanços e retrocessos, cooperar, reivindicar, etc.
    O movimento feminista, em particular, adopta essa linha. Não lhe podes apontar o exercício de actos criminosos, genocídios, etc. Pelo contrário, as/os activistas feministas é que foram objecto de tortura, perseguição, homicídio.
    Pessoalmente, gostava que o movimento feminista fosse mais assertivo, muito mais. Chegará o dia, espero. Mas só chegará, se eu o exigir. Se viver na indiferença ou for conivente com o estado actual, nada muda.

    ****
    Desejo um óptimo fim-de-semana.
    Mais uma vez, foi um prazer.

    saudações feministas,
    anabela

    P.S.: Regozijo-me em notar que já não és um “passarinho” (como escreveste no 1º comentário), mas um “passarão”. Brincadeira. ;)

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  24. E um tempo velho como um mundo, e podemos ainda passar anos a debater este melindroso assunto.

    Anabela, aconselhava-te a ler uma antologia de poesia. "poesia 61" se nao estou em erro. Nas letras e um marco na emancipacao das mulheres.

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  25. É um debate que não tem fim.
    Não o considero “melindroso”, mas antes “controverso” em virtude da multiplicidade de concepções ideológicas que convoca.
    Irei, com certeza, debruçar-me sobre a “Poesia 61”. Conheço a poesia de Maria Teresa Horta, uma das suas figuras e grande feminista (ouçam-se gargalhadas de júbilo! =)), mas não sobejamente. Obrigada pela dica!

    boa semana,
    anabela

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  26. Eu sinceramente acho que mais do que controverso, nao tem razao de ser hoje em dia. A mulher emancipou-se imenso nas ultimas decadas. Se estivessemos nos anos 60, ate percebia as vossas reinvindicacoes, mas hoje em dia, ser activista parece-me desactualizado. A mulher nao esta assim tao mal integrada na sociedade portuguesa e na Russia. Nao sao perseguidas, a lei protege-as, ha mulheres com cargos politicos importantes. Todas tem acesso ao ensino superior. Sera que alguma vez foste discriminada? Sinceramente, nao ha pachorra para esses vossos discursos moralizadores, e para a mania que tem de impor pontos de vista aos outros.
    Queres lutar por causas justas? Entao olha para a condicao dos homossexuais na Russia, e para a das minorias de cor. Esses sim, podem-se queixar de discriminacao.

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  27. Olá João,

    Noto-te um tanto ou quanto áspero. Calma. Isto é um debate, não uma quezília. Não para mim.
    Preferiria que não fosses tão titubeante nas tuas apreciações: primeiro, louvas “a circulação de ideais” sobre feminismos; depois, caracterizas de “melindrosa” (a passar quase a ideia de que é melhor não abordar!); por último, consideras que “não tem razão de ser hoje em dia”.
    Eu, que pretendo ser mais coerente, deixo os seguintes tópicos:

    1.“… hoje em dia, ser activista parece-me desactualizado. A mulher não esta assim tão mal integrada na sociedade portuguesa e na Rússia”.
    As mulheres não estão “tão mal”, estão só um bocadinho. Não é a mesma coisa, note-se! A “assimetria salarial”, a “violência conjugal”, as “vítimas dos chamados "alfonsyª, kak govoritsia” – como enfatizaste (02|04|2010) – não passam de ninharias. Para quê reivindicar os seus direitos? Na verdade, “… não tem razão de ser hoje em dia”.

    (Parte I)

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  28. (Parte II)

    2.“Não são perseguidas, a lei protege-as, há mulheres com cargos políticos importantes. Todas têm acesso ao ensino superior”.
    “A lei protege-as”. Há uma grande diferença entre a teoria e a prática. É neste tópico que me detenho. A Constituição Portuguesa estabelece a igualdade entre homens e mulheres; a realidade mostra-se frequentemente avessa. Basta compararmos o nº mulheres que são violentadas/assassinadas pelos maridos, (ex-)companheiros e namorados com o nº de penas aplicadas e cumpridas pelos agressores/homicidas. Notarás, com certeza, um grande desfasamento.
    “… há mulheres com cargos políticos importantes”. De acordo com a ONU (2010), Portugal têm apenas 27,4% de mulheres em cargos parlamentares, mas ultrapassa a média mundial de 18,8%. No que concerne à participação de mulheres nos ministérios, Portugal ostenta 31,3%, ao passo que a Rússia fixa-se nos 16,7%. De seguida, compara estes valores com a percentagem de eleitoras. E chamam-lhes sociedades democráticas!
    “Todas têm acesso ao ensino superior”, sublinhas. O cenário parece, com efeito, auspicioso: as mulheres em maioria nas universidades, sinal de emancipação. Porém, não obstante possuírem cada vez mais habilitações, isso não significa que tenham o mesmo estatuto e oportunidades que os homens no mercado de trabalho. Ao invés, encontram mais obstáculos na entrada, permanência, ascensão e saída. Vejamos:
    - a máxima “salário igual para trabalho de valor equivalente” é adulterada. Em média, os salários das mulheres são nitidamente inferiores aos dos homens, mesmo nos níveis de qualificação mais elevados.
    - a concentração das mulheres num conjunto restrito de actividades profissionais, a saber, serviços pessoais e domésticos, saúde e acção social e educação – segregação horizontal. A nível da verticalidade do mercado de trabalho, verifica-se uma maior prevalência de mulheres nos níveis inferiores da hierarquia profissional, ou seja, à medida que aumentam os níveis de qualificação, a concentração diminui – segregação vertical.
    - o assédio moral (tentativas de descredibilizar, escarnecer, menosprezar manifestadas por um indivíduo em relação a um que lhe é hierarquicamente inferior) e sexual (suborno, comentários inoportunos, agressões físicas, posturas sexuais). No meu ciclo, conheço pessoas (portuguesas e russas) que foram empurradas para o desemprego por causa disto. Não falo de cor.
    - a taxa de desemprego das mulheres é muito mais insinuante do que a dos homens. No 4º trimestre de 2009 (INE), a taxa de desemprego dos homens foi de 9,5% enquanto a das mulheres ascendeu aos 10,7%.
    - Quantas mulheres são demitidas pelo facto de terem engravidado? Não raras são as entrevistas de emprego que levantam uma questão assaz pertinente: quando pretende ter filhos? Mais. Quantas mulheres protelam a maternidade em virtude dos desejos da entidade patronal?
    A igualdade, essa, ainda está longe de ser uma realidade. Só não vê quem não quer. Há quem pense que a miopia é lenificante. Eu não.

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  29. (Parte III)

    3. “Será que alguma vez foste discriminada?”
    Se já fui discriminada? Sim, todos os dias. Quando dão primazia ao masculino nos discursos que dirigem (também) a mim, quando sou assediada moralmente na rua, quando reificam o meu corpo, quando me vedam o acesso a determinados locais por não usar indumentária que julgam “apropriada a uma mulher”, quando me colocam entraves à vivência da sexualidade, quando me coagem a adoptar os papéis sociais, etc.
    Nunca fui violentada psicológica, física ou sexualmente; nunca fui discriminada no mercado de trabalho; não fui excluída do sistema de ensino. Porém, isso não significa que não deva pugnar pelos direitos das mulheres. Não me concebo como um animal, a quem colocam palas para seguir um só caminho. Vivo num mundo, onde não reconheço fronteiras. Só esta frase basta.

    4.“Sinceramente, não há pachorra para esses vossos discursos moralizadores, e para a mania que têm de impor pontos de vista aos outros”.
    “Discursos moralizadores?”. Pareces-me equivocado. Pelo contrário, apologizam-se discursos libertadores; heterogéneos; ausentes em repressão, opressão, coacção, etc.
    “… mania que têm de impor pontos de vista aos outros”, dizes. Esta frase causa-me reticência. De duas, uma: gostas muito de generalizar, olhar as/os activistas como uma massa homogénea e, por isso, consideras a imposição de opiniões um comportamento uníssono de todas/os, OU as tuas palavras encerram uma crítica pessoal. Erradamente ou não, pendo para a segunda possibilidade e respondo: cada sílaba aqui esgrimida possui unicamente o propósito de opinar, debater, (contra-)argumentar. Pena que, por vezes, não sinta isso do outro lado.

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  30. (Parte IV)

    5.“Queres lutar por causas justas? Então, olha para a condição dos homossexuais na Rússia, e para a das minorias de cor”.
    É interessante notar a velocidade com que mudas de opinião.
    Anteriormente, afirmaste o seguinte: “a militância feminista na nossa social-democracia portuguesa dá-me vontade de rir, pois é ela mesmo que corrobora as prioridades do governo, como a do casamento homossexual, quando o país está a saque, com taxas de desemprego nunca antes vistas” (31|03|10; 18:48).
    Não preciso de ser analista do discurso para perceber que te referes à legalização do casamento homossexual, em Portugal, pejorativamente.
    Agora, espante-se, consideras a homofobia uma manifestação indubitável de atitudes/comportamentos discriminatórios. Fez-se luz!
    “Queres lutar por causas justas?”, perguntas. Não só quero, como o faço: olho, penso e ajo contra hegemonias. Não é por acaso que, nas minhas intervenções, povoam vocábulos como patriarcado, homofobia, racismo, xenofobia, etc. Manifestam o desprezo que tenho por qualquer tipo de hierarquia, expressam o meu propósito de erradicá-las.

    **
    Foi um gosto.

    saudações feministas,
    anabela

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