A linguagem do Gonçalo M. Tavares é concisa, precisa e elaborada, muitas vezes amarga, o escritor faz-nos ver as coisas de novo, faz-nos ser honestos connosco próprios. O livro perturba nos. Ao focar-se num assunto, quer que seja uma convenção social ou individual, ou seja uma convicção, um comportamento pessoal, o autor aumenta os traços distintivos, levando-os até ao absurdo, e assim revela o valor profundo, primitivo do fenómeno. Tudo isso é feito duma maneira maliciosa e construtiva ao mesmo tempo.
No encontro da Iniciativa da Associação Cultural Europa Viva com apoio do Instituto Camões e da Embaixada de Portugal, Gonçalo M. Tavares abordou os problemas que a divergência de dois mundos traz: o da vida e da língua.
Todos nós sabemos como é difícil nos exprimir com essas sequências de sons, chamadas palavras, o significado dos quais é uma mera convenção da sociedade em que vivemos. As acepções do nosso discurso interior não se encaixam em significados que as palavras contêm. a mesma palavra pode ser entendida de varias maneiras por leitores diversos e até por a mesma pessoa em situações distintas.
Mas como cada caso tem dois lados, a divergência entre a vida, a língua e o entendimento vai sendo um fonte de inspiração e de criatividade. Gonçalo M. Tavares aprecia imenso as frases ambíguas "que não se sabem aonde cair". O cargo de escritor e descascar a palavra de acordo humano, de associações vulgares. É chato pensarmos em cadeira ao ouvirmos mesa. É curioso saber que a linguagem das crianças até aos 5 anos é pura de convencionalismo, de lugares-comuns.
Gonçalo M. Tavares deixou a impressão de uma pessoa aberta às inovações, e com profundo conhecimento das vida, da literatura, e ainda por cima simpático e com bom sentido de humor.
Foi uma sorte tê-lo cá. Entrar na leitura de qualquer uma das suas obras é entrar num universo muitíssimo bem estruturado, e cada obra é um pedaço desse mundo, à imagem dos livros que constituem o Bairro, e os livros negros, cuja leitura aconselho vivamente.
ОтветитьУдалитьDeixo aqui a frase do Saramago na entrega do Premio Saramago "tão jovem e já com este talento. Até apetece bater-lhe".